Antes de mais nada, precisamos falar da importância de Aaron Antonovsky, professor, pesquisador e sociólogo médico que, na década de 1970, nos apresentou o termo salutogênese, que vem do latim salus = saúde e do grego genesis = origem. Ele está relacionado à busca das razões que levam alguém a estar saudável e esse conceito representou uma mudança de paradigmas nas ciências da saúde, que até então estavam em busca de uma explicação somente para a razão de alguém estar doente.
Em resumo, em vez de tentar curar um paciente doente, a salutogênese procura ajudá-lo a atenuar os causadores do estresse, reduzindo demandas internas ou externas que perturbam a homeostase do corpo (capacidade dos organismos de manterem o meio interno em estabilidade). Aaron Antonovsky encontrou a resposta no que ele batizou de Sense of Coherence ou Senso de Coerência, uma escala que analisa como os seres humanos enxergam a vida e preservam a saúde com a ajuda dos sentimentos de otimismo.
Uma percepções pioneiras do estudo da salutogênese foi Florence Nightgale, precursora na área de enfermagem que, no livro “Notes on Hospitals”. Publicado em 1863, ele destaca como a saúde dos pacientes está ligada ao seu retorno à vida saudável. A publicação traz análises sobre os ambientes hospitalares ingleses, apontando erros estruturais e norteando projetos arquitetônicos em busca de criar ambientes saudáveis. Fica claro a importância da manutenção dos espaços, que precisa acontecer com frequência para que haja esperança de cura ao paciente, fazendo-o compreender sobre a importância da organização do ambiente na melhoria da saúde.
Outro ponto em questão é estimular e fazer com que as pessoas sejam capazes de entender o contexto em que encontram, ou seja, num hospital em que os pacientes, em raras exceções, compreendem as doenças e os tratamentos, a ideia seria justamente o contrário. E onde entraria a arquitetura? Ela cumpriria um papel fundamental e facilitaria esse entendimento ao conceber espaços hospitalares com trajetos mais intuitivos, seja por meio do planejamento geral, seja por criações de sinalização, inclusão da biofilia (natureza), entre outras medidas. Esses recursos, absolutamente assertivos, mais do que ajudariam os pacientes a entender o entorno, oferecendo ainda a melhora na sensação de independência deles e no aumento de confiança num resultado de sucesso.
Em geral, a arquitetura hospitalar se traduz em algo frio e fúnebre. Sob o ponto de vista da arquitetura salutogênica, a ideia é fazer com que os centros de saúde recebem instalações de arte, cantos de música, bibliotecas, academias e locais recreativos. Também vale pensar na presença do verde e, quando possível, dos animais para estimular a recuperação de quem está internado.
Ao seguir a proposta de espaços salutogênicos, a ideia é enfatizar o olhar para o ser humano, em resumo, caminhar para a humanização dos ambientes, valorizar as experiências e favorecer a cura. A estratégia não é somente complementar, mas partir da integração entre as pessoas. Entre os bons exemplos de hospitais com essa preocupação pelo mundo, reunimos dois projetos muitos especiais.
Hospital Khoo Teck Puat
Este hospital em Cingapura procura usar a natureza para promover a cura em seus pacientes. No pátio central há um trabalho de paisagismo fora do comum, nele mais de 70% das espécies são nativas da região (há ainda plantas raras e quase em extinção). O hospital, que fica em Cingapura, também tem uma horta e um pomar com mais de 130 espécies de árvores frutíferas! As hortaliças das hortas e as frutas são todas orgânicas e são utilizadas para as refeições dos pacientes. A ideia do hospital se iniciou em 2005 e a empresa responsável pelo desenvolvimento foi a CPG Corporation.
Alexandra Hospital
É o primeiro Hospital Geral Integrado em Cingapura que oferece cuidados holísticos e contínuos, desde ambientes agudos, subagudos até ambientes de reabilitação, reduzindo a necessidade de transferência de um paciente para outra instituição de saúde. O modelo clínico é liderado por equipes e baseado em programas, o que significa que cada paciente que chega ao Hospital passará em, pelo menos, um dos cinco programas clínicos principais e será cuidado por um único médico e pela mesma equipa de cuidados, ao abrigo de um destes programas.